Tivemos dois artistas em "Agifólio"..."Agifólio"?
Fotos: Vivian Martins
Quem aponta é Janaína Carrer:
Agifólio Monica Lopes
Fotos: Vivian Martins
Fotos: Rodrigo Munhoz
Agifólio Márcio Vasconcelos
Quem aponta é Janaína Carrer:
"AGIFÓLIO"
ou como rachar a pasta de folhas
A prática do portfólio, bem como da 'leitura de portfólio' continua comum,disseminada e diria cada vez mais valorizada na arte contemporânea. Criar, carregar e falar do seu portfólio continua sendo um meio do artista mostrar, valorizar, discutir (vender?) seu trabalho. O que é possível notar, no entanto, é que esta prática pode algumas vezes aproximar-se mais do conceito de portfólio gerado dentro do campo mercadológico, onde uma empresa exibe a sua "cartela de trabalhos" a possíveis clientes a fim de comprovar sua trajetória. Mas então para quem e porque eu abro meu portfólio? Se não há o intuito de 'venda de obras', onde e como realizar esta abertura de trabalho?
Não há dúvidas de que o processo de construção do portfólio é, se bem aproveitado, um ótimo dispositivo de auto-avaliação. Reunir, escolher, nomear, escrever, organizar os trabalhos realizados demandam um tempo e uma atenção que muitas vezes propiciam 'insights' e leituras nunca feitas do próprio processo criativo. Abrir, ler, falar, mostrar este portfólio para outras pessoas pode, novamente, alavancar leituras outras, inquietações e provocações positivas que impulsionam o artista. Na área da educação o uso do portfólio, feito pelo próprio aluno com ajuda do professor, visa uma avaliação dinâmica e reflexiva do processo de aprendizado para além da excelência.Este 'documento' criado (em forma de fotos, textos, caixa-arquivo, web e infinitas variáveis) procura construir uma espécie de mapa (cartografia?) dos momentos, ações, trabalhos e reflexões do aluno ao longo de um período de tempo. Além deste processo autoavaliativo, no campo educacional o portfólio serve ainda como meio de comunicação entre pais, alunos e professores, ampliando as formas de devolutivas que podem colaborar para a caminhada do aluno na vida escolar (e fora dela).
Caberia então, talvez, buscar no campo da educação a inspiração para rever os objetivos do portfólio de artista e principalmente sua abertura e discussão. Se a educação conseguiu enxergar nele uma estratégia de individualização e reflexão dos próprios processos de aprendizagem, talvez coubesse a nós artistas retomarmos o lugar do aprendiz, que constrói, olha e discute seu portfólio pautado menos na 'excelência' e 'comprovação' e mais na reflexão dos processos. Tendo em vista que estamos sempre alternando no papel de artista que constrói/lê um portfólio e artista que ouve/discute o de alguém, lembrar então que ocupar - ora o papel do aluno, ora o papel do professor/pai demanda uma revisão do entendimento do que é organizar, falar e avaliar um processo de criação/aprendizado.
Uma problemática ainda maior se apresenta, me parece, quando se trata da construção e abertura de portfólio de um artista da performance. Não pretendo aqui questionar os modos de formatação material deste portfólio. Um 'pdf' que comporta imagens, registros, links de vídeos e textos descritivos é tudo que eu, pessoalmente, posso/consigo realizar atualmente na construção de um portfólio que tenha por finalidade um site na rede ou a inscrição em editais/festivais/salões,etc. Para discutir os modos de materializar este portfólio em imagens - em se tratando de uma arte de ação - seria necessário um tempo maior dedicado a discussões como registro/arquivo ou mesmo a 'venda' de trabalhos em performance. Me atenho agora ao processo de "abertura" ou "leitura" deste portfólio.
Os modos/formas de se apresentar o portfólio de um artista da performance me parecem tão infinitamente variáveis quanto são variáveis as poéticas destes. Talvez coubesse questionar os modos cristalizados que a própria normatividade artística impõe para que estes portfólios se apresentem. Tratando-se ainda de uma linguagem mutante, variável e pessoal, a performance possui potência para implodir, de dentro para fora, o 'modus operandi' destas leituras, rasgar caminhos não para uma abertura mas de uma grande rachadura de/no portfólio. Parece-me que principalmente para um artista que foca sua atuação na performance, onde claramente o processo/conteúdo não se separa da ação/forma, abrir é também "agir" este portfólio. Não "portar-folhas"- portfóliomas "agir-folhas" - agifólio. Um neologismo que revoga atitude e agenciamento, empenho ético na intenção de rachar a si mesmo enquanto abre sua trajetória. Importa menos a forma - se projeção, imagem, leitura ou performance - desde que a poética intrínseca e pessoal contamine os modos de apresentação/fala/leitura. 'Agir' o portfólio é abrir-se com os olhos de uma criança em eterno processo de aprendizado.
Claro que para isso trata-se ainda de agenciar espaços e seres que desejem este encontro, onde a abertura de portfólio esteja menos próxima do mercado e mais da pessoa, menos do 'exibir' e mais do "agir". Não diminui-se o entendimento da leitura de portfólio como discussão do trabalho do artista, pelo contrário - soma-se a possibilidade de que isto ocorra como uma abertura que se atualiza em experiência, onde o artista possa de fato agir e refletir seu processo menos do que avaliar suas 'excelências'.
Não há dúvidas de que o processo de construção do portfólio é, se bem aproveitado, um ótimo dispositivo de auto-avaliação. Reunir, escolher, nomear, escrever, organizar os trabalhos realizados demandam um tempo e uma atenção que muitas vezes propiciam 'insights' e leituras nunca feitas do próprio processo criativo. Abrir, ler, falar, mostrar este portfólio para outras pessoas pode, novamente, alavancar leituras outras, inquietações e provocações positivas que impulsionam o artista. Na área da educação o uso do portfólio, feito pelo próprio aluno com ajuda do professor, visa uma avaliação dinâmica e reflexiva do processo de aprendizado para além da excelência.Este 'documento' criado (em forma de fotos, textos, caixa-arquivo, web e infinitas variáveis) procura construir uma espécie de mapa (cartografia?) dos momentos, ações, trabalhos e reflexões do aluno ao longo de um período de tempo. Além deste processo autoavaliativo, no campo educacional o portfólio serve ainda como meio de comunicação entre pais, alunos e professores, ampliando as formas de devolutivas que podem colaborar para a caminhada do aluno na vida escolar (e fora dela).
Caberia então, talvez, buscar no campo da educação a inspiração para rever os objetivos do portfólio de artista e principalmente sua abertura e discussão. Se a educação conseguiu enxergar nele uma estratégia de individualização e reflexão dos próprios processos de aprendizagem, talvez coubesse a nós artistas retomarmos o lugar do aprendiz, que constrói, olha e discute seu portfólio pautado menos na 'excelência' e 'comprovação' e mais na reflexão dos processos. Tendo em vista que estamos sempre alternando no papel de artista que constrói/lê um portfólio e artista que ouve/discute o de alguém, lembrar então que ocupar - ora o papel do aluno, ora o papel do professor/pai demanda uma revisão do entendimento do que é organizar, falar e avaliar um processo de criação/aprendizado.
Uma problemática ainda maior se apresenta, me parece, quando se trata da construção e abertura de portfólio de um artista da performance. Não pretendo aqui questionar os modos de formatação material deste portfólio. Um 'pdf' que comporta imagens, registros, links de vídeos e textos descritivos é tudo que eu, pessoalmente, posso/consigo realizar atualmente na construção de um portfólio que tenha por finalidade um site na rede ou a inscrição em editais/festivais/salões,etc. Para discutir os modos de materializar este portfólio em imagens - em se tratando de uma arte de ação - seria necessário um tempo maior dedicado a discussões como registro/arquivo ou mesmo a 'venda' de trabalhos em performance. Me atenho agora ao processo de "abertura" ou "leitura" deste portfólio.
Os modos/formas de se apresentar o portfólio de um artista da performance me parecem tão infinitamente variáveis quanto são variáveis as poéticas destes. Talvez coubesse questionar os modos cristalizados que a própria normatividade artística impõe para que estes portfólios se apresentem. Tratando-se ainda de uma linguagem mutante, variável e pessoal, a performance possui potência para implodir, de dentro para fora, o 'modus operandi' destas leituras, rasgar caminhos não para uma abertura mas de uma grande rachadura de/no portfólio. Parece-me que principalmente para um artista que foca sua atuação na performance, onde claramente o processo/conteúdo não se separa da ação/forma, abrir é também "agir" este portfólio. Não "portar-folhas"- portfóliomas "agir-folhas" - agifólio. Um neologismo que revoga atitude e agenciamento, empenho ético na intenção de rachar a si mesmo enquanto abre sua trajetória. Importa menos a forma - se projeção, imagem, leitura ou performance - desde que a poética intrínseca e pessoal contamine os modos de apresentação/fala/leitura. 'Agir' o portfólio é abrir-se com os olhos de uma criança em eterno processo de aprendizado.
Claro que para isso trata-se ainda de agenciar espaços e seres que desejem este encontro, onde a abertura de portfólio esteja menos próxima do mercado e mais da pessoa, menos do 'exibir' e mais do "agir". Não diminui-se o entendimento da leitura de portfólio como discussão do trabalho do artista, pelo contrário - soma-se a possibilidade de que isto ocorra como uma abertura que se atualiza em experiência, onde o artista possa de fato agir e refletir seu processo menos do que avaliar suas 'excelências'.